A revoada dos mortos

Povoam os céus da noite
dos infernais abismos de
Hades, taciturnas
revoadas de pássaros
 impedidos de sonhar, calados
pelo uivo patriótico
de cadelas fascistas que ousam
ir de encontro ao mar da fúria
e da morte despovoada de ar

A estrela do oriente
bêbada em vinho 
de sangue brilha
desgraçadamente
em um hospital 
de campanha, a vislumbrar
eternamente a dança macabra
do oxigênio esvaindo-se da carne

O abutre, de forma imperiosa, 
semeia a semente costurada
pela tosse seca da multidão, que 
paulatinamente escurece a nação

Poetizam pobres almas:
“A vida é uma cova, 
os sonhos, flores mortas.”

Somos uma libélula faminta
de luz, que maviosamente
repousa no vazio imbatível
da solidão 

A loucura tecida pela
distorção do negro
espelho de um celular
fez-se a condutora
de um levante orquestrado
pela insanidade
de revoltosos corações
ressequidos pelo vírus
do ódio que paira no ar

A aranha do ocidente
teceu infalivelmente
uma rede de algoritmos
revolvidos de lunáticos
e sádicos, que operam
a irracionalidade como
constituição da pátria

  A fome, a música;
a asfixia, a coreografia

 Cantarolam confiantes 
os esqueletos triunfantes: 
“A existência é um sopro do
calibre de um furacão.”

Avizinha-se todos os dias
a morte da civilização, asfixiada
através do vapor de um
sistema financeiro tragado
pelo código da devastação

Pássaros pousam abatidos
nos solos do exílio, enquanto
os tiranos voam estimulando
a glória da escuridão, aterrissando
esfuziantes em lápides coletivas

Bailam enterrados 
  os mortos-vivos: 
“O espírito é um ritmo 
silenciado pela razão.”

O trono asiático resplandece, 
o restante do mundo
como as moscas definham

O sinuoso retrato de
uma galeria de povos
senhores de todas as
revoluções despencou ardilosamente
sobre as cabeças dos ocidentais
   
A rebelião das massas 
exaltou um novo lema: 
o século XXI pertence
aos psicóticos, que roem os tons
de suas bandeiras e marcham
dilacerando os asfaltos
da civilização

Pão, terra e paz
substituídos 
pelo antidepressivo,
pela vingança da natureza
e o teatro caótico
de líderes famintos
pelo espelho 
de pobres telas virtuais

   Rebeldes, gritam os mortos:
“A morte não é destruição,
é diluição. A morte dilui o indivíduo;
e, à vista disso, dissolvendo-o, também 
derrota a sociedade.”










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